quinta-feira, 7 de abril de 2011

Desvendando os mitos da pílula anticoncepcional


Você já deve ter ouvido por aí que tomar pílula anticoncepcional engorda, não é mesmo? Porém, esse é apenas um dos mitos que cercam a eficácia e também os efeitos colaterais do método contraceptivo desde o seu surgimento, na década de 1960. Algumas dúvidas até são fundamentadas, porque as primeiras pílulas disponíveis no mercado continham uma dosagem hormonal dez vezes maiores do que as atuais.
Segundo o médico Rogério Bonassi, presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), ao contrário do que ocorria no passado, atualmente há uma grande diversidade de tipos de pílula que podem ser indicados após uma consulta detalhada da mulher com seu ginecologista, que a partir das características de cada paciente irá sugerir uma pílula com menor chance de causar efeitos colaterais para a usuária. Além disso, deve-se lembrar que como hoje em dia praticamente só se prescreve formulações de baixas doses hormonais, os efeitos colaterais, quando ocorrem, são leves e transitórios, ou seja, costumam melhorar ou desaparecer com o tempo de uso.
“O que ocorria com frequência, nas primeiras doses lançadas, é que elas ocasionavam mais retenção de líquido, enjôo, dores de cabeça. Essas pílulas lançadas nas décadas de 60 e 70 tinham praticamente 5 a 10 vezes maiores doses que as pílulas atuais. Assim, estes efeitos ocorrem com pouca frequência com as formulações atuais. Muitas mulheres, não sabem qual a composição de uma pílula. Todas as pílulas são compostas basicamente de etinil-estradiol e progestagênios, que simulam os hormônios estrogênio e progesterona que as mulheres produzem durante o ciclo menstrual”, afirma.
“Em algumas pacientes, o etinil-estradiol pode causar retenção de líquido até os dias de hoje, porém de maneira bastante leve. É importante a usuária saber que o efeito é transitório e depende também da quantidade de sódio (sal) contida na dieta. Outro ponto importante é não confundir retenção de líquido com ganho de peso. A tecnologia das pílulas avançou tanto que, inclusive, nos dias atuais há formulações especiais, que evitam a retenção de líquido. Foi lançado recentemente um composto contendo um progestagênio que simula um efeito diurético, o que reduz esses sintomas”, acrescenta o Dr. Bonassi.
Tão importante quanto conhecer os efeitos da pílula é tomar suas doses corretamente. Se ingerida conforme o indicado, possui 100% de eficácia. “Como muitas mulheres tomam errado, trabalhamos com um índice de falha que pode chegar a 8%. Mas isso ocorre porque muitas se esquecem de tomar a dose corretamente”, avalia o presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Febrasgo.
Outro mito em torno do medicamento, que faz com que muitas pacientes parem o remédio por medo, é o de que há risco de infertilidade associado ao uso frequente ou prolongado do método. Após a suspensão do medicamento, a fertilidade retorna em um período de 30 a 90 dias na maioria das mulheres. A fertilidade dependerá, então, de outros fatores, principalmente da idade.

Outro mito que carece de fundamento científico é o de que a idade limita a indicação do método, principalmente no caso de mulheres com mais de 35 anos. Em geral, os médicos recomendam o uso de um método anticoncepcional até pelo menos os 50 anos, porque, mesmo que se considere que o risco de gravidez diminui muito nessa idade, ainda assim uma gestação pode ocorrer. Se a paciente não apresenta contra indicações, como tabagismo e doenças ou fatores de risco cardiovasculares, a pílula combinada pode ser usada nessa fase com segurança.
“No entanto, no Brasil, muitas mulheres acima dos 35 anos não fazem uso da pílula. Segundo pesquisas que fizemos, 30% delas já se submeteram à laqueadura (ou ligadura das tubas uterinas), 25% ingerem a pílula, 20% não usam qualquer método contraceptivo e o restante faz uso de outros métodos”, afirma o Dr. Bonassi.
Fatores de risco
Mas é importante entender que há fatores de risco determinantes quanto ao uso do medicamento. Ainda de acordo com o especialista, por exemplo, “fumantes acima de 35 anos não podem ingerir a pílula porque o risco de infarto aumenta em até 20 vezes”.
“Mulheres que sofrem de enxaqueca com aura ou sintomas neurológicos (sensações de formigamento, ou perda de força em algum membro do corpo, ou visualização de pontos brilhantes ou escuros no seu campo visual antes da crise), quem sofre de hipertensão arterial grave e doenças cardiovasculares, quem já teve trombose nas pernas – que é um coágulo sanguíneo nas veias –, devem evitar a ingestão do remédio”, completa o presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Febrasgo.
O avanço da medicina também ajudou a diminuir efeitos colaterais, como no caso do período em que a mulher tarda a engravidar após a suspensão da ingestão da pílula. “Em média, a mulher engravida de quatro a cinco meses após a interrupção do uso. No entanto, as primeiras pílulas, que continham dosagem hormonal muito elevada, causavam amenorreia – interrupção da menstruação – na mulher por até seis meses, por causa do efeito da supressão dos hormônios”, avalia o Dr. Bonassi.
“Em média, elas demoravam até um ano para poder engravidar. Essa realidade começou a mudar a partir de 1977, quando as doses das pílulas foram bem reduzidas”, completa.
Sexo e humor
Outro mito ainda passível de ser ouvido nas ruas é o de que as pílulas protegem contra doenças sexualmente transmissíveis. Essa relação não existe, e é fruto, geralmente, de alto grau de desinformação por parte da população. “O que protege é o comportamento no ato sexual”, como o uso de preservativos, classifica o especialista.
As pílulas comercializadas atualmente trazem inúmeros benefícios “Por exemplo, hoje em dia, existem opções no mercado que até tratam da TPM. E muitas mulheres, avessas à irritação durante este período, preferem passar meses sem menstruar, emendando a ingestão de uma cartela na outra. Não há problema em fazer isso”, acrescenta o Dr. Bonassi.
Quanto à interação com medicamentos, Dr. Bonassi ressalta que alguns fármacos também podem interferir na eficácia da pílula.
“Anticonvulsivantes, alguns antibióticos, retrovirais (como os remédios para AIDS) e alguns antidepressivos são responsáveis por isso. É importante ficar atenta, porque alguns antidepressivos são fitoterápicos e comumente vendidos sem prescrição médica. Um deles é a erva de São João. Por isso, é sempre bom consultar seu médico quando fizer a ingestão desses medicamentos”, conclui o especialista.

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